As
alterações das hemoglobinas envolvem a síntese
estrutural e quantitativa dos aminoácidos que compõem
as diferentes cadeias de globinas, bem como as moléculas
e enzimas que participam da formação do grupo heme.
As alterações que ocorrem nas globinas
se devem às modificações nos genes responsáveis
pelo sequenciamento e estrutura de cada tipo de polipeptídeo
de globina, bem como naqueles destinados à regulação
quantitativa da síntese equilibrada entre as globinas alfa
e beta (b, d
e g). Quando um determinado
gene apresenta uma de suas bases nitrogenadas substituída
por outra diferente, resulta na formação de moléculas
de hemoglobinas com características bioquímicas alteradas
em relação às hemoglobinas normais e são
por isso denominadas hemoglobinas variantes. Por exemplo, a hemoglobina
S se deve à introdução do aminoácido
valina (Val) no lugar do ácido glutâmico (Glu) na posição
número 6 da cadeia polipeptídica da globina beta por
meio de um processo conhecido por mutação. Essa anormalidade
se deve a uma troca da base nitrogenada adenina (A) pela timina
(T), conforme a seqüência representada a seguir: |
As mutações que afetam o controle
dos genes para as sínteses equilibradas entre as globinas
alfa e não-alfa são muito diversificadas. Em geral,
essas mutações provocam diminuições
no volume de síntese de uma das globinas com intensidades
variáveis, ou até mesmo ausência de síntese.
Nesses casos ocorrem desequilíbrios do conteúdo entre
a globina produzida normalmente e a alterada. Quando a mutação
bloqueadora de síntese de globina atinge, por exemplo, o
gene alfa (talassemia alfa), há diminuição
do conteúdo de globina alfa dentro das células eritróides,
enquanto a síntese de globina beta se faz normalmente. Essa
diferença de síntese entre globinas alfa e beta promove
o desequilíbrio entre elas, e as conseqüências
fisiopatológicas são proporcionais ao tamanho do desbalanceamento
ocorrido (figura 5.1). |
Dessa forma, conceitualmente se denominam hemoglobinas
variantes aquelas que apresentam estrutura química
diferente à da sua hemoglobina normal correspondente (A,
A2 ou Fetal), motivada pela mutação de uma ou mais
bases nitrogenadas que resultam na substituição de
um ou mais aminoácidos nas globinas alfa, beta, delta ou
gama. As hemoglobinas anormais são aquelas
consideradas variantes, bem como as hemoglobinas normais com alterações
quantitativas, por exemplo: Hb A2 elevada, Hb Fetal elevada, Hb
A2 diminuída. As talassemias consistem um
conjunto de síndromes motivadas principalmente por alterações
de sínteses quantitativas de globinas alfa e beta, causando
desequilíbrio entre elas e variáveis graus de anemias
hemolíticas, além de várias outras conseqüências
patológicas. As hemoglobinopatias são
designações destinadas às hemoglobinas variantes
que causam anemia hemolítica, policitemia, cianose ou falcização,
bem como as talassemias que serão apresentadas no item 7.
Finalmente, há as hemoglobinas anormais
e hemoglobinopatias não-hereditárias,
que representam um grupo restrito de alterações das
hemoglobinas normais causadas por agentes indutores e são
também conhecidas como formas adquiridas. Entre as hemoglobinas
anormais não-hereditárias destacam-se a Hb A2 diminuída
nas ferropenias, a Hb A2 aumentada na malária, no diabetes
e na doença de Chagas; a Hb Fetal elevada em certas doenças
mielóides, em transplantados renais, em portadores de HIV
ou por uso de determinadas drogas, e a Hb H adquirida nas doenças
linfo e mieloproliferativas. Por outro lado, as hemoglobinopatias
não-hereditárias mais comuns são as metaemoglobinas
elevadas por indução de drogas oxidantes (sulfa e
derivados, nitritos, anilina etc.), gases e solventes oxidantes.
O grupo heme é tão importante quanto
a globina por duas razões: como o agente que coloca o oxigênio
à disposição da célula, que a ativa
e transfere elétrons, e pelo fato de ser um pigmento corado
que possibilita o estudo da diferenciação e maturação
dos precursores eritrocitários. Assim, alterações
das enzimas que participam das transformações dos
compostos químicos envolvidos na síntese do anel de
porfirina dão origem às porfírias e protoporfírias
eritropoiéticas (ver figura 3.12 do ítem 3).
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